108 anos de Marabá – homenagem da Unifesspa

O professor Francisco Ribeiro, Reitor da UNIFESSPA (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará) – onde ora trabalho – escreveu este texto alusivo ao aniversário de Marabá e o papel da IES no contexto da cidade e a da região de abrangência.Eu resolvi trazer o texto para cá, porque… porque sim.

108 anos de Marabá, o Ensino Superior e a Unifesspa

No aniversário de 108 anos de Marabá, não poderíamos deixar de refletir sobre a colaboração da universidade pública para esta cidade-polo do nosso estado. O Ensino Superior, em Marabá, é parte importante da história da cidade.
Esta que é a cidade polo das regiões sul e sudeste do Pará por suas atividades produtivas, pela capacidade de atração do fluxo migratório, pelas belezas naturais, entre outros aspectos, tem se destacado também como uma referência no campo da Educação Superior.
A Unifesspa, criada em 2013, deu um salto significativo na oferta de vagas e na diversificação da formação nesta região de abrangência. Hoje, são 42 cursos de graduação e 12 cursos de pós-graduação, distribuídos em seis cidades.
Ao longo desse período, formamos 3.302 alunos nas mais diversas áreas do conhecimento. Na Pós-graduação, formamos 201 mestres, profissionais esses que têm participado ativamente da construção história de Marabá.
O contexto de atuação desses profissionais ainda é o de uma região de contrastes, com um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, mesmo sendo a maior província mineral do planeta e possuindo um dos maiores rebanhos de bovinos do Brasil.
Diante desses desafios, a Unifesspa tem a responsabilidade de construir novos caminhos que levem ao desenvolvimento social, econômico e sustentável para Marabá e sua região de influência. E essa cidade, que abriga a sede da nossa universidade, também tem participado fortemente desse processo de amadurecimento institucional.
Dessa maneira, a Unifesspa compromete-se com Marabá a permanecer atenta às realidades locais, a fortalecer e aperfeiçoar o ensino nas salas de aula, a produção de conhecimento científico, acreditando que a ciência promovida pela universidade pública pode e deve transformar para melhor a vida das pessoas, de suas comunidades, de sua cidade e do país.
Viva Marabá!
Texto de Francisco Ribeiro, reitor da Unifesspa.

Minha cidade, minha vida – poema de Ademir Braz

Para parabenizar Marabá por seu aniversário hoje 05 de Abril separei este belíssimo poema de um dos melhores poetas desta cidade.

Minha cidade, minha vida
Ademir Braz

1

Assim como o pedreiro orienta
do ferro e da pedra o verbo exato;
como a lavadeira que os panos leva
aos girassóis da fonte matinal
e nos álveos de luz dispersa em cora
a seda orvalhada dos lençóis;

assim minh’alma disporei em pranto
até que tu, só tu, aurora minha,
raies sobre as velas do meu canto.

2

Entre as sombras que a luz semeia
de brilhantes, enredado em fluídos
ouço tua voz, cidade, acalentando
em pranto insones e perdidos.
Sobre o sono lânguido das rochas
ardem lírios brônzeos. Secretos
címbalos cintilam em vertigem:
é todo estilhaço pelos tetos
o mar luar silenciosamente.
Puro ouro em pó sobre a calçada
é teu soluço, córrego sem leito,
e que sentido tem a luz assim
esparsa e rara a transmudar-me o peito?

Eu vivo imerso para sempre neste
e nas coisas deste e dos outros mundos.

3

Há dias, porém, que me aborreço
até com que me aborreço. São
dias inóspitos, de fardos e farpas,
agravos e adagas; são águas terçãs
de agosto aquilo com que me aborreço.
São ácidos dias, cidade, quando
a vida, aos trancos, derrapa, trepida,
e a mão em chaga viva tece de urtigas
um manto sob o céu de pássaros e bruxas.

E troto então em tuas ruas várias
entre meninos sombrios e cães sem dono
e lembro, dos teus cantores, aquele
que chorou por ti no plenilúnio:
“Sofres: teu mal devora-te as entranhas;
há podruras que a seiva te empeçonham:
miúdos, mesquinhos, mínimos, imundos,
mil fimícolas vis te martirizam,
depauperam, corroem, desnaturam;
são teus ancilóstomos políticos,
larvas letais da fauna verminal.

Não terem todos uma só cabeça
para que eu, de um só golpe, a decepasse!
Decapitam-se as hidras, porém eles
são acéfalos todos, como as ostras!
Para tais parasitos sugadores
resta o desinfetante da ironia,
anti-helmíntico heróico do sarcasmo”.

4

A voz tonitroante – e inútil, cidade –
do poeta ressoa nos casebres
e na praça mouca dos poderes
(mas nem por isso cessarei o alarde).

Queria então falar de amores, cidade,
mas o amor não é tudo: não é paz,
nem crença, nem destino. Não é pão,
justiça, crime ou câncer. Nem terra
ou fome; cataplasma, água, ar, insônia,
nem bebida forte que os olhos doura.

5

Que fim levou a amada, cidade,
a dos olhos dourados e mãos camponesas
que um dia, ao fim do dia,
levou-me uma rosa entre os seios
e a promessa – já realizada –
de uma dor tão grande como nunca vista
em nenhuma teogonia? A amada
e a rosa eternizaram-se no espelho.

6

Vês? Tu e eu morremos um para o outro
diariamente. (Somos o que somos. E somos
apenas memória do que fomos).Tudo que sei
disperso neste coração legado às ventanias:
só trago no céu da boca, indissoluta,
a tatuagem invisível de tuas estrelas.
Sim, são ácidos esses dias,
quando até o amor se exila.
Então a poesia sai de mim aos gritos
e não sei senão das coisas que os pássaros
perdem, o mar deixado atrás, a negra noite
que se acumula na boca entre versos de Neruda.

Visão área do encontro dos rios Tocantins e Itacaiúnas. Origem: ejatlas.

Pessach – Leonor Scliar-Cabral

Encontrei este belo poema de Leonor Scliar- Cabral e resolvi trazê-lo para cá.

Ele foi originalmente publicado na revista Maaravi – Revista Digial de Estudos Judaicos – UFMG: https://periodicos.ufmg.br/index.php/maaravi/article/view/13920/11101

PessachLeonor Scliar-Cabral*

Vapores que se mesclam ao frisar
ternos de festa antes que a luz no oeste
definhe e o ferro em brasa a faiscar
desenhe a última curva e não reste
migalha de fermento no alguidar.

Que as carroças de Erebango chiem
trazendo as crianças para o séder
e o marceneiro as serras silencie
e brilhem os balcões sem os tecidos.

O patriarca entoe a canção
que à luz das velas bentas bruxuleia
e a água purifique nossas mãos
e o sangue desça pelas nossas veias
amalgamando tâmaras e figos.

Páscoa. Pessach. Travessia.

Páscoa. Pessach. Travessia.
Abilio Pacheco

(I)
Sobreviver desertos, transpô-los.
Resistir laços e lâminas;
quaresmas e quarentenas.
Para cruzar o Jordão: Via Crucis.
Terra e corpo tenros.
De alma nova: Ser o mesmo e outro.

(II)
Sem ovos, nem pães fermentados.
Êxodo: o mar seccionado por ventos
E transposto a pé enxuto.
Deixados para trás os grilhões.
De faraó sucumbem nas águas
Carros, cavalos e cavaleiros

(III)
Sem chocolates ou coelhos.
Ramos: entrar em Jerusalém
Após uma plena quaresma.
Transpor as dores da via.
Sofrer a morte de cruz
e vencê-la por todos nós.

(IV)
Sempre êxodo, sempre ramos.
Cruzar o mar e entrar em Jerusalém.
Percorrer a quaresma deserta.
Desvencilhar-se de imundas amarras.
Livrar-se de cruzes e faraós.
Vencer! Vitória e Glória.

(V)
Que caminhos fazemos para
chegarmos a vida plena de hoje?
Quais desafios os nossos
para sermos de fato livres?
Que inimigos devemos vencer
para vivermos triunfantes?

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Outros poemas meus podem ser lidos aqui.

Imagem extraída de [https://bneinoach.org.br/wp-content/uploads/2019/03/pessach-1.jpg]