Marabela – poema

Ainda no ritmo de aniversário de Marabá, posto este poema da professora de Linguística da UNIFESSPA, Dra Eliane Soares

MARABELA (PRECIOSA)

Marabá
Uma terra quase ilha
Mesopotâmia tropical
No meio dos rios, uma trilha
Feita de sangue, suor, lágrimas, mel
e sal
Babilônia onde reinam os reis da terra
Na boca, o progresso e o bem geral
Nas mãos, a lei do mais forte e do machado
Que um dia dominou o castanhal
Uma terra prometida à multidão
De homens e mulheres conquistadores
Corações em desespero e ousadia
Busca de um eldorado e de amores
Terra mulher, mãe, esposa, amante, filha
Herdeira da Cruz e de Tupã
Índia de arasóia e Barbarella
Vitória régia e estrela da manhã
Filha do temor e do tremor
Criança mestiça, renegada,
Profecia do oráculo sem fala
Onde o demiurgo louco enxergou
Uma deusa pagã vingativa,
A quem chamou: Marabala.
Eu te pergunto:
Bela e louca
Marabala,
Quem te ouve?
Quem te cala?
Doce e frágil
Marabala,
Quem te fere?
Quem te abala?
Triste e só
Marabala,
Quem te ama?
Quem te embala?
Será Marabala,
Marabela?
Quem te sonha?
Quem te vela?
Eu te batizo:
És
Marabá
Marabela
Preciosa
Forte
Bela.

Eliane Soares
(poema feito em 2000)

Mural feito pelo artista visual Bino Sousa como homenagem à cidade e à uma nova forma de referir-se a ela em oposição à anterior.

A educação é um investimento para o presente

A educação é um investimento para o presente

A postagem sobre o retorno de R$ 3,28 para cada R$ 1,00 gasto em educação no site da UNIFESSPA fez-me lembrar de uma coisa que ouvi do prefeito de uma cidade do interior do Pará.

Numa das viagens que fiz ministrando disciplinas pelo Parfor, o prefeito e o secretário de educação almoçaram comigo e com outros professores. Eles disseram que faziam isto uma vez por semana: iam almoçar com os professores no lugar onde os professores estivessem.

Por acaso eu me sentei em frente ao secretário de educação (o prefeito ao seu lado). Ambos falaram de suas dificuldades na vida. Eram de famílias sem escolaridade e ambos haviam estudado até a 4ª série (um perfil relativamente comum em prefeituras em cidades pequenas no norte do Brasil).

Uma das pessoas elogiou o incentivo e o empenho da prefeitura em participar do projeto para levar formação superior aos professores que já estavam em sala de aula (uma das principais finalidades do Parfor). Outro falou da educação como um investimento para o futuro.

Prefeito e secretário entreolharam-se. O prefeito pediu para o professor explicar o que seria o futuro. Ou quando seria o futuro. E a pessoa falou da educação como investimento para as próximas gerações etc (você que me lê deve conhecer este argumento – verdadeiro).

O prefeito explicou que a educação não era um investimento apenas para o futuro. Como havia explicado o meu colega. Não era apenas para daqui a 15 ou 20 anos e não era apenas no sentido de conhecimento e nível intelectual da população. A educação – segundo prefeito e secretário – eram um investimento para o presente.

Vou tentar reproduzir a longa explicação do prefeito como se fosse um discurso direto dele mesmo:

–Daqui a 2 anos, estes professores que já estão contratados pela prefeitura, ou seja, já estão inseridos no mercado de trabalho, estarão formados. O plano de carreira estabelece um novo salário para estes professores. A prefeitura não tem receita para atender este novo valor para todos os professores obedecendo o piso nacional do magistério. Assim, o governo federal vai ter que aumentar o financiamento para pagar este novo salário. Os professores depois de formados passarão a receber 80% mais que hoje. É quase o dobro. Eles vão comer melhor, vão comprar algum móvel que não tem, vão poder tomar uma cervejinha, dar um dízimo maior nas igrejas, vão poder comprar um pipoca para filhos quando estiverem passeando na praça… Muita gente vai ganhar: donos de mercado, de lojas de eletrodomésticos, de bares, pastores e padres, o pipoqueiro, e aí por diante.

Era o ano de 2012. Eu esperava que depois da pausa que se instalou entre os convivas, alguém quebrasse o silêncio. Não resisti e falei que a arrecadação de impostos também aumentaria. Ele sorriu alto e completou:

108 anos de Marabá – homenagem da Unifesspa

O professor Francisco Ribeiro, Reitor da UNIFESSPA (Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará) – onde ora trabalho – escreveu este texto alusivo ao aniversário de Marabá e o papel da IES no contexto da cidade e a da região de abrangência.Eu resolvi trazer o texto para cá, porque… porque sim.

108 anos de Marabá, o Ensino Superior e a Unifesspa

No aniversário de 108 anos de Marabá, não poderíamos deixar de refletir sobre a colaboração da universidade pública para esta cidade-polo do nosso estado. O Ensino Superior, em Marabá, é parte importante da história da cidade.
Esta que é a cidade polo das regiões sul e sudeste do Pará por suas atividades produtivas, pela capacidade de atração do fluxo migratório, pelas belezas naturais, entre outros aspectos, tem se destacado também como uma referência no campo da Educação Superior.
A Unifesspa, criada em 2013, deu um salto significativo na oferta de vagas e na diversificação da formação nesta região de abrangência. Hoje, são 42 cursos de graduação e 12 cursos de pós-graduação, distribuídos em seis cidades.
Ao longo desse período, formamos 3.302 alunos nas mais diversas áreas do conhecimento. Na Pós-graduação, formamos 201 mestres, profissionais esses que têm participado ativamente da construção história de Marabá.
O contexto de atuação desses profissionais ainda é o de uma região de contrastes, com um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, mesmo sendo a maior província mineral do planeta e possuindo um dos maiores rebanhos de bovinos do Brasil.
Diante desses desafios, a Unifesspa tem a responsabilidade de construir novos caminhos que levem ao desenvolvimento social, econômico e sustentável para Marabá e sua região de influência. E essa cidade, que abriga a sede da nossa universidade, também tem participado fortemente desse processo de amadurecimento institucional.
Dessa maneira, a Unifesspa compromete-se com Marabá a permanecer atenta às realidades locais, a fortalecer e aperfeiçoar o ensino nas salas de aula, a produção de conhecimento científico, acreditando que a ciência promovida pela universidade pública pode e deve transformar para melhor a vida das pessoas, de suas comunidades, de sua cidade e do país.
Viva Marabá!
Texto de Francisco Ribeiro, reitor da Unifesspa.

Minha cidade, minha vida – poema de Ademir Braz

Para parabenizar Marabá por seu aniversário hoje 05 de Abril separei este belíssimo poema de um dos melhores poetas desta cidade.

Minha cidade, minha vida
Ademir Braz

1

Assim como o pedreiro orienta
do ferro e da pedra o verbo exato;
como a lavadeira que os panos leva
aos girassóis da fonte matinal
e nos álveos de luz dispersa em cora
a seda orvalhada dos lençóis;

assim minh’alma disporei em pranto
até que tu, só tu, aurora minha,
raies sobre as velas do meu canto.

2

Entre as sombras que a luz semeia
de brilhantes, enredado em fluídos
ouço tua voz, cidade, acalentando
em pranto insones e perdidos.
Sobre o sono lânguido das rochas
ardem lírios brônzeos. Secretos
címbalos cintilam em vertigem:
é todo estilhaço pelos tetos
o mar luar silenciosamente.
Puro ouro em pó sobre a calçada
é teu soluço, córrego sem leito,
e que sentido tem a luz assim
esparsa e rara a transmudar-me o peito?

Eu vivo imerso para sempre neste
e nas coisas deste e dos outros mundos.

3

Há dias, porém, que me aborreço
até com que me aborreço. São
dias inóspitos, de fardos e farpas,
agravos e adagas; são águas terçãs
de agosto aquilo com que me aborreço.
São ácidos dias, cidade, quando
a vida, aos trancos, derrapa, trepida,
e a mão em chaga viva tece de urtigas
um manto sob o céu de pássaros e bruxas.

E troto então em tuas ruas várias
entre meninos sombrios e cães sem dono
e lembro, dos teus cantores, aquele
que chorou por ti no plenilúnio:
“Sofres: teu mal devora-te as entranhas;
há podruras que a seiva te empeçonham:
miúdos, mesquinhos, mínimos, imundos,
mil fimícolas vis te martirizam,
depauperam, corroem, desnaturam;
são teus ancilóstomos políticos,
larvas letais da fauna verminal.

Não terem todos uma só cabeça
para que eu, de um só golpe, a decepasse!
Decapitam-se as hidras, porém eles
são acéfalos todos, como as ostras!
Para tais parasitos sugadores
resta o desinfetante da ironia,
anti-helmíntico heróico do sarcasmo”.

4

A voz tonitroante – e inútil, cidade –
do poeta ressoa nos casebres
e na praça mouca dos poderes
(mas nem por isso cessarei o alarde).

Queria então falar de amores, cidade,
mas o amor não é tudo: não é paz,
nem crença, nem destino. Não é pão,
justiça, crime ou câncer. Nem terra
ou fome; cataplasma, água, ar, insônia,
nem bebida forte que os olhos doura.

5

Que fim levou a amada, cidade,
a dos olhos dourados e mãos camponesas
que um dia, ao fim do dia,
levou-me uma rosa entre os seios
e a promessa – já realizada –
de uma dor tão grande como nunca vista
em nenhuma teogonia? A amada
e a rosa eternizaram-se no espelho.

6

Vês? Tu e eu morremos um para o outro
diariamente. (Somos o que somos. E somos
apenas memória do que fomos).Tudo que sei
disperso neste coração legado às ventanias:
só trago no céu da boca, indissoluta,
a tatuagem invisível de tuas estrelas.
Sim, são ácidos esses dias,
quando até o amor se exila.
Então a poesia sai de mim aos gritos
e não sei senão das coisas que os pássaros
perdem, o mar deixado atrás, a negra noite
que se acumula na boca entre versos de Neruda.

Visão área do encontro dos rios Tocantins e Itacaiúnas. Origem: ejatlas.