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sol numa xícara rara
ele mal cabe aí dentro
com a linha do sachê entre
os dedos… uma espera
cada bolha explodindo
dourada feito lava
vulcão, simples, talvez
seja um bom título
gotas de sangue do pulso
para adoçar este nada
a tarde não morre antes
da beberagem no corpo
não há noite, não há
é só sol escaldante
alguém aí sugere
um curto epígrafe?
vamos! às mãos dadas
aos touch-screens
o sol agoniza ao sangue
“era para cortar o açúcar”
e vagam pensares numa
ressaca que não vem
“amanhã será outro dia”
nojo e nojo de auto-ajuda
este líquido adocicado
cura os porres da vida?
por favor, uma epígrafe
não um epitáfio
e – ao gotejar no sol –
há hemo-melodia, bílis
faive ô clóque tchiii ou
chá com tango vesperal
a xícara alaranjadamente
nega sua qual-cor de antes
sol, metáfora nuclear,
leitor de massaud moisés!
rastilho de fogo no fio do sachê
quase de queimar dedos
a ressaca não vem nem virá
porque o porre perdura
as mãos desdadas
às mãos des-dadas
“a poesia é para ser sentida”
martelo batido no dedo ou…
e isso, jamais café, só chá
se presta a ser qualquer coisa
inclusive, pensares errantes
em vermes e âmbares, ó range!
há contra-canto ativo para
esta melodia tocada em qwert
o sol desanda e quase coalha
devia ter apenas lagrimado
sem ápices, sin ápices
pensares temulentos
sol no copo, tulipa ou xícara
sol no corpo, soma ou sema
dica: no sussurro dos versos
tip: teclado shift efe sete
o líquido cor de poente
tem gosto de esvaimento
há calor demais neste mix
de vida e vida e mais vida
daí uma chave de leitura
ninguém sabe ler sem isso
no sangue, uma espécie de gozo
chiando ao pingar no sol
as mãos des-dadas abanam-se,
abandonam-se, abonam-se
a boca salivando a vida
recusando de ir-se à vida
“princípio combinatório”
com algo que de random
pelas linhas das bordas
com a cabeça cindida
o poema precisa encerrar
mesmo que abrupto
o título então complexo
“chá hemo helios”
Fim – the end!
O poema acabou ali.
“Não date seus poemas” dizia D.
Dato se eu quiser.
A poesia aborrece modos imperativos.
Hoje, nove do nove de noves fora um.
Eu, que nem sei que número de meu nome sou
Abilio Pacheco
Poema envolvente…