Se nada te falta, fecha esse livro

Escrevi o seguinte texto para as orelhas do livro Regras de Fuga, de Eleazar Carrias, poeta e professor paraense.
O livro pode ser adquirido na página da Editora Urutau.

A poesia, tal como a música, é marcada por oscilações de sons e silêncios, instrumentos que tocam e param de tocar, pessoas que cantam e param de quando em quando, ritmos e pausas, presenças e ausências. Como evidenciar ou por em destaque no texto tudo que se refere ao vazio? Como falar sobre “a vida inteira que podia ter sido e que não foi”?

Pulverizando os versos dos poemas de Eleazar percebemos como é possível. Neles, o eu-lírico se declara não-poeta, afirma que nunca será poeta e que a matemática é a poesia mais bela. Justo a matemática? A “arte de resolver problemas”, em sentido etimológico. Ela, cujo trabalho é encontrar os valores incógnitos. A poesia mais bela é aquela que trabalha com os vazios, com os não-conhecidos, com o que se deseja ou quer preencher.

Talvez por isso, diante de um dos primeiros problemas a que se coloca o poeta ao organizar um novo livro, a resolução foi matemática. Foram escolhidos apenas o primeiro e o último poema (ambos marcados por movimentos de partida) e os demais foram ordenados aleatoriamente, através de sorteio. Afinal, o poeta é a-matemático, é um “cientista sem método”.

Além desses dois poemas limítrofes, predomina na poesia de Eleazar a sensação de escape, não apenas físico, mas também discursivo. Embora deseje discordar, o eu-lírico concorda que o boi devorado é culpado pela própria morte.

É uma poética marcada por vazios. O que o poeta quer dizer com isso é que “as séries: / equilibram, não existindo”. “Engenharia” é encontrar Deus onde não há engenharias humanas, na floresta. Solidão é um aprendizado lento, entre amigos e é aprendida na multidão. Uma poética que se apresenta nos gritos roucos, nos pedidos poucos (merrecas).

Além disso encontramos afirmações pela negação ou pela supressão ou por algum desvio de olhar ou pensamento. A identidade que o interlocutor no poema “Um violão folk” não tem é semelhante a um “uísque de Glasgow / envasado no Brasil”. Não é falso, tampouco é original. Mesmo as ironias trabalham com esse duplo afirmar-negar. Em “Quatro lições”, afirma que “a boa poesia só a si mesma se refere: / não cita nomes”, mas afirma que aprendeu isto com um amigo, cujo nome estampa no poema. Também o não se acostumar com o corpo amado, o perdão pedido para os corpos nus que vê, quando, na verdade, o pecado é desejo de quem olha (se pecado for).

A epígrafe do livro fez lembrar-me outro verso de Manuel Bandeira: “Fecha meu livro se por agora / Não tens motivo algum de pranto”. A poesia de Eleazar neste livro, parece-me dizer claramente: “Fecha meu livro se não te falta nada”. Eu ouvi. A mim falta, e fui até o fim.

Experiência TAG – Julia Hueberlin

Estou vivendo minha primeira experiência TAG. Fiz a assinatura do plano Inéditos, já recebi meu primeiro kit composto pelo livro “A noite vai te encontrar”, de Julia Heaberlin, marcador de páginas, um encarte sobre o livro, um cartaz e os brindes de boas vindas: uma agenda (não me agrada chamar de planner) e uma luminária.
Para mim, a caixinha também é um brinde.
Por enquanto estou gostando do livro. Estou na pág. 75. Não é tipo de livro que eu prefira: uma mistura de policial com suspense ou sobrenatural, mas estou gostando.
Não li o encarte, nem nada a respeito do livro, quase deixava de ler a página 07 pensando que fosse um paratexto sobre o livro.
No que se refere à leitura em si, a experiência TAG vai bem.
Não sei se vou mergulhar no mundo digital da experiência: ouvir podcast, entrar no aplicativo (aliás, qual deles?), ouvir playlist de música, etc.
Talvez eu use o template disponível no site para indicar que terminei a leitura e compartilhe nas redes.
Ou seja: eu achei que tem muita distração para além do livro, mas é isso mesmo. Está no material esta informação:
“A proposta da TAG é ir além do objeto [leia-se: do livro], proporcionando uma verdadeira experiência literária”.
Neste caso, vamos nós, né?