Li no facebook do professor Paulo Nunes e não me contive em deixar que o poema se perdesse no feed de tantas outras coisas e tantos outros conteúdos.
Terra BrasilisPaulo Nunes
Caio em algarismos,
sou objeção dos numerais: cardinais, ordinais
e no caixa ou sobre o cofre:
um ego ordinário tecla a máquina de calcular.
Nem sei se sou
porcento ou percento,
não hei agora o título inútil de minha humana lisura,
papel que não vale
o quadro na parede.
Caminho entre corpos, os piores são os andantes cadáveres da viv’alienação.
Não cheiram a nada, urubus e corvos são orgulho e desinteresse.
Enquanto me quedo
o barqueiro de Caronte faz seu serviço,
remar remar remar.
Todo dia a TV anuncia que caem
mil à tua esquerda,
mil e quinhentos à tua direita,
a teus pés sucumbem mais mil e poucos,
e o vizinho ambidestro aumenta o volume da eletrola,
indiscreto e vazio.
4.500 em 24 horas.
Sou inútil com os algarismos, já o disse.
Meu peito foi,
a cabeça remoída
olha descarnada as notas no jornal.
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Paulo Nunes é professor universitário de literatura e poeta com vários livros publicados.
Mora em Belém-Pa.