Futebol devoção

Futebol Devoção

Política, futebol e religião não se discutem. Não se discutem!? Claro que sim. Só não é preciso brigar, tomar ar, ir as vias de fato… Mas um bom debate, por que não? Talvez sempre se diga isso desses três aspectos importantes de nossa vida social por causa do espaço que eles ocupam em nossos afetos ou por eles terem algo mais em comum.

Não consigo ver que religião abarque características do futebol ou da política, nem que política abarque rasgos próprios da religião e do futebol. Mas este sim, está cada vez mais próximo da política e mais ainda da religião. Não é à toa que termos como fiel, devoção, ídolo e outros do mesmo campo semântico costumem se apresentar em discursos do futebol. Em outro país da nossa AL, tem jogador sendo chamado de deus, existe igreja (igreja?), culto e muitos, muitos fiéis.

Uma prática comum no futebol moderno, a apresentação de um jogador recém contratado, é um dos ritos obrigatórios. Afinal, a chegada do craque faz aflorar verdadeiros e arraigados sentimentos messiânicos. Por isso, não deve ser novidade ao leitor as notícias de desfile em carro de bombeiros ou mesmo a formalização da chegada num encontro com a torcida com o jogador sendo alocado num palco montado na arquibancada em evento para 20 mil fiéis, fãs, torcedores…

Agora, dá cá esta palha!, vender tijolinho personalizado para arrecadar fundos para um centro de treinamento, isto sim, é uma novidade. Embora não seja muito distante de recursos próprios a algumas neo-pentecostais, no futebol ainda não tinha visto nada parecido. Sempre achei esse procedimento muito semelhante ao antigo caderninho de assinaturas (existe ainda?). Só que ampliado, amplificado, atribuindo ao assinante (ou comprador do tijolinho) mais benefícios devido ao valor agregado e praticamente invertendo a relação necessitado-benfeitor.

Afinal, não é o time que está precisando de você para a construção do CT ou coisa que o valha, mas você que está tendo o “privilégio” de participar do projeto (que só não é exclusivo, por estar sendo transmitido para todos os televisores ligados possíveis, mais internet) ou ainda, não é que o time (importante, não sei quantas vezes campeão) esteja precisando, ele apenas está sendo complacente com seus torcedores a ponto de oferecer esta possibilidade (por sinal um recurso de marketing bastante comum).

Não, não recrimino quem compre. Fiz apenas um pequeno exercício nesta crônica. Eu mesmo, só não vou pedir um tijolinho para mim, porque não é o meu time que está vendendo. Ora, nisso o futebol apresenta um grande diferencial: enquanto a mudança de denominação é quase uma constante no Brasil (quem sabe devido à criação de tantas novas igrejas) e a fidelidade partidária não segura político numa legenda nem à base de lei, no futebol cada um torce por seu time até morrer.

Belém, 19 de janeiro de 2011.
Abilio Pacheco, professor, escritor

4 comentários em “Futebol devoção”

  1. Futebol, religião e política são temas que mexem com a paixão… Eu me mato de rir do modo como os telejornais esportivos debatem o futebol; eles ao invés de de focarem a parte tática, técnica e/ou estratégica, dão ênfase a coincidências do tipo “a cueca do jogador era amarela, e o canto da trave, por onde a bola entrou, também”.

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  2. Abílio, eu desisti mesmo de discutir certos temas com as duas senhoras com quem tomo café… o futebol não me entusiasma, está fora de questão, mas as pessoas perdem facilmente a cabeça com a política e a religião. Tiveram de ser banidos das nossas conversas, sob pena de acabar com uma “risoterapia” que dura há três anos…
    Um abraço!

    Maria João

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  3. Amigo Abílio,

    Realmente, política, futebol e religião são assuntos de eternos debates. No futebol, a torcida fanática do Corínthians elegeu meu protetor e amigo do peito para seu patrono e o time do meu coração, o Flusão, canonizou (aliás merecidamente) João Paulo II, o nosso João de Deus, e o consagrou como seu padroeiro. Vemoos, portanto,
    nessas manifestações populares uma verdadeira união entre o futebol e a religião. Quanto à política, um bispo
    nordestino acaba de marcar um gol nas entranhas do Senado ao recusar uma comenda denominada D. Hélder Câmara por não aceitar que aquela Casa Legislativa se atribua um aumento de mais de sessenta por cento e não aumente nem em dez por cento desse valor o salário mínimo. E aí, há ou não uma sublime relação entre política, futebol e religião?
    Saudações espíritas.
    Jorge

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  4. Olá, Abílio!
    Concordo com você. Devemos sim dicutir religião, futebol e política. O problema é que num mundo como o nosso, em que impera um individualismo exacerbado, o indivíduo torna-se cada vez mais fechado em suas opiniões e em suas “verdades”…
    Abraços

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