Amante das Leituras

Amante das Leituras (*)

Abilio Pacheco

O cônjuge não apresentava os sinais que lhe ensinaram. Mas havia algo. Sentia. Embora faltasse descobrir o pivô, tinha certeza. Era necessário observar mais atentamente.
Cuidados, afetos, carinhos eram mesmos, mas o olhar distante, como se vazado, o gesto frouxo, como se exausto, e o pensamento moroso, como se custasse a alcançar o que via ou ouvia… Daí, suspeita se firmava pachorra e inequívoca.
Montou tocaia. Preparou-se para o que fosse. Iria descobrir este comborço, camélia , valete de baralho. Caminhou pezinho ao de leve, girou lenta a maçaneta, abriu porta e descobrindo-o metido entre pilhas de volumes soube que o cônjuge era amante dos livros.
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(*) Conto escrito especialmente para o desafio de prosa da lista de discussão “Amante das Leituras“. Com este ainda belisquei o Segunda lugar.

Uma consideração sobre “Amante das Leituras”

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