Escritura
A Eliton Moreira e Ademir Braz
Tecer versos é, por força, fazer sulcos em penedos,
Singrar as pedras todas do mar de si ao avesso,
Derramar suores em gotas no fero vigor do remo.
É ferir, à quilha da fragata, as artérias espumosas
Das altas internas vagas. É navegar por entre as rochas
E extrair exangues lascas — vergões por dentro e por fora.
É talhar a cerrados pulsos as pedras finas, mas duras.
E lapidar relevos pulcros em fendas pouco profundas.
É um árduo trabalho infruto, que só lega palmas sujas.
Mas é preciso fazê-lo! Alguém deve abrir as ostras
Abismadas em seu peito para juntá-las a outras
Iguais na casca e no meio, mesmo que estejam ocas.
Por fim: crer que vale a pena mineralizar as lavras
Como fulcros ao poema e inertes todas deixá-las
Inativas pelas fendas — palavras amortalhadas.
Para que tu, só tu possas sugar o cerne dos versos
Acumulados em poças pelos teus olhares tétricos
Que desmineram as horas e se desmentem eternos.
In: Pacheco, Abilio. Mosaico Primevo. Belém: Ed. do autor, 2008, pág. 15.
Que maravilhoso ver um trabalho com tamanha qualidade literária, recursos que a linguagem revela outros tempos outros valores. Felicidades Professor e sucesso pelo seu talento e dom.
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Professor Abilio Pacheco…
Encontrei em seu poema a magia do poeta que nós faz levantar voo ao universo da imaginação e donde navegamos por mares dante navegados e tranportado ao mundo das rimas e do encanto do voar pelos versos.
Parabens…
Continue a nós brindas com belissimas obras.
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Uma construção: tijolo por tijolo num desenho arquitetado com maestria. Uma obra edificada no corte, na sutura, no enquadramento… Na emoção!
Parabéns
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Belíssimo poema. Difícil encontrar atualmente palavras tão exatas e naturais que nos levem a refletir sobre a criação da arte literária. Parabéns pelo poema. Continue sempre, precisamos disto. Vicente.
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Caro Abílio
Da sua (uso dizer “tu”, por considerar que todos somos irmãos e que essa fraternidade se estreita entre aqueles para quem o uso da palavra é Ser)… De tudo quanto li ficou uma enorme admiração pelo poeta, pelo educador, pelo homem transparente, pelo divulgador quase altruísta.
Sinto-me feliz por se terem cruzado as palavras em que revelamos o nosso propósito de vida e a nossa atenção ao nos envolve.
Muito obrigada pelo seu convite para cooperar na I Antologia Literária Cidade.
Fraterno abraço,
Maria
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“As palavras elegem o poeta”
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